A COMIDA ESTÁ BOA, MEU BEM? José Claudio da Silva

Catarina e o bebê morreram no parto. 
Desconsolado, Josué passou dois meses chorando a morte da esposa. O que mais sentia era que Catarina era uma boa mulher na cama e uma ótima cozinheira. Nunca repetia um prato. Sabendo que sua outra filha de dois anos precisava de uma mãe, e ele de uma mulher, resolveu se casar novamente. 

Casou-se com Márcia, uma vizinha solteirona, que era muito amiga de sua finada esposa. Ao contrário de Catarina, Márcia era ruim de cama e péssima na cozinha. Maldita hora em que ele a escolhera para se casar. Sabia fazer apenas arroz, feijão, ovo, carne e macarrão. Todo dia era a mesma coisa. Nunca mudava. Arroz, feijão mais ovo. Carne, macarrão mais ovo. Dois mais um, dois mais um, dois mais um. Já estava enjoado. 

Na primeira briga disse que ela era ruim de cama e péssima cozinheira. Márcia não disse nada. Apenas o olhou. Logo Josué arrumou uma amante. Chegava em casa tarde. Quase não via sua filha. Nem se preocupava com ela. Achava que Márcia cuidava bem dela. Pelo menos isso. Nos finais de semana ficava no bar. Ali almoçava e jantava. Dormia sem tomar banho. A barba estava sempre cerrada. Seu perfume era pinga e cerveja. Quando chegava em casa bêbado, brigava com a mulher. Humilhava-a de todas as formas. Sempre frisava pejorativamente a atuação dela na cama e na cozinha. Ele não percebia o ódio que crescia dentro dela. Principalmente quando ele falava da finada. 

Márcia decidiu que se vingaria. Ela tinha uma vida sossegada, de solteira. Nunca se preocupou com homem. Casou com ele porque pensou que ele era uma boa pessoa. Mas ele só sabia infernizar a vida dela. Começou a fazer um curso de culinária. Mas não tinha jeito. Tudo desandava. Mas precisava insistir para poder por seu plano de vingança em prática. Numa noite em que Josué estava sóbrio, Márcia lhe disse que precisava visitar sua mãe em Pernambuco. Ela estava muito doente. Ela sabia que ia morrer e chamara todos os filhos para se despedir. Disse que levaria Jaqueline para casa da mãe dele em Sorocaba e que ela ficaria por lá enquanto estivesse em Pernambuco. 

Josué concordou rapidamente porque não tolerava mais a mulher. No dia seguinte, quando chegou em casa, a mesa da sala estava posta. Josué estava com fome, mas sentiu ânsia de vômito quando pensou na comida que a mulher sempre preparava. No entanto, sentiu um cheiro gostoso vindo da cozinha. Entrou na cozinha e Márcia disse: 

- Meu amor, aprendi a fazer um pratos especiais no curso. Fiz para você. Sei que vai gostar. Amanhã viajo para Pernambuco e quero que esta seja uma noite agradável. 
-O que você fez? Parece delicioso. 
-Sente-se na mesa e espere. Já vou servir. 

Faminto, Josué sentou-se. Márcia entrou trazendo duas panelas. Quando ele tirou a tampa, sentiu um cheiro delicioso. Era carne. Mas o sabor era totalmente desconhecido para ele. 

-A comida está boa, meu bem? 
-Deliciosa. Josué repetiu várias vezes. Márcia disse que tinha mais da mesma carne na geladeira e no freezer. Amanhã ele poderia comer mais. 

No outro dia, bem cedo, Márcia partiu. Josué levantou-se e foi trabalhar. Passou o dia inteiro pensando na deliciosa comida. Não via a hora de chegar em casa e comer mais. 
Aproveitando a ausência da esposa, convidou a amante para jantar com ele e passar a noite. Os dois chegaram. Francisca, a amante, foi até a cozinha preparar a comida. Francisca abriu a geladeira e gritou. 

Josué correu para a cozinha e viu Francisca desmaiada no chão. Ela voltou a si e, balbuciando e tremendo, pediu para ele olhar a geladeira. Josué se levantou e foi até a cozinha. Abriu a geladeira e viu pedaços de um corpo humano espalhados dentro dela. 
Quando abriu o freezer, viu a cabeça de sua filha.

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