Lia no escritório. De repente, fez silêncio. Televisão, rádio, videogame, computador, violão, guitarra...
Tirou os olhos do livro. Sentiu um arrepio na espinha. Vagarosamente olhou para a porta. Viu a tempestade, o ciclone, o tufão se aproximando. Seus dez sobrinhos e os dois filhos, todos adolescentes, olhavam-no silenciosamente.
Incomodado, sorriu amarelo, verde e roxo.
- O que vocês estão fazendo aqui? Onde estão as mães de vocês?
- Nossas mães nos mandaram ficar aqui – disse Marina.
- Como!!? - É, tio. Elas saíram juntas. Foram a um tal de Clube das Mulheres - disse Bruna.
-Não acredito!!
-É verdade, tio – disse Giovani.
- Mas aqui não cabem vocês todos! Por que vocês não vão passear no shopping?
- Não estamos com vontade – disse Maryana.
-O que vocês querem fazer?
-Não sabemos ainda – disse Daniel.
Nuvens escuras cobriam o céu do escritório. Nuvens pesadas e gordas. O estrago seria grande. Precisava se livrar deles.
-Peguem livros e leiam. Todos riram diante de uma proposta tão indecente.
- Tio...
-Sim?
As nuvens já cobriam todo o céu do escritório. A escuridão tomava conta de tudo.
-Nós queremos...
-Não!!
-Mas eu ainda não disse!
-Não precisa dizer. A resposta é não.
As primeiras gotas grossas começaram a cair.
-Nos queremos acampar – disse Lucas.
A chuva caiu furiosa gerando ondas gigantescas em mares nunca dantes navegados. Um pouco de exagero, talvez, mas aquelas crianças deviam ser malucas.
-Vocês estão loucos!!!!???
-Por que?
- Eu não vou acampar com doze adolescentes encrenq... espertos.
-Por que não, se somos espertos?
-Não estou cansado de viver.
Um vento forte levantou as folhas de papel que estavam sobre a mesa. As árvores se curvaram em respeito ao vento que zunia dentro do escritório. A escuridão, o ar pesado dificultava o raciocínio.
-Mas...
A água inundou todo o escritório:
-O senhor prometeu – disse Daniel.
-Eu!!?? -Sim.
-Quando eu fiz essa loucura?
-No aniversário do André.
-Eu devia estar bêbado. Não devemos dar importância às palavras de um bêbado.
-O senhor não bebe – disse Juliana.
- Comecei naquele dia e já falei besteira. Mirem-se no meu exemplo e não bebam.
- O senhor prometeu para todos nós. Agora não quer cumprir – disse Mayra.
- Marquem o mês que eu marco o ano.
- Nós queremos ir já – disse André.
-Janeiro chove muito. Não vai dar certo.
- É o nosso mês das férias – disse Maurício.
-Férias. Queremos aventura.
-Ler é uma aventura.. .
-Falsa.
-Está certo... nós vamos.
A tempestade acalmou. Os ventos pararam de soprar. Uma calmaria invadiu o escritório. Sobrou o vazio. Sonhara? Não. O pesadelo estava apenas começando.
-Quando partiremos? – perguntou Vinícius.
-Depois de amanhã estejam todos aqui.
O fatídico dia chegou. Na manhã seguinte, embarcaram num carro alugado que os deixou na reserva da Juréia, em Peruíbe. Depois de sete dias voltaria para buscá-los. Entraram na mata. Caminharam durante horas. Escolheram o lugar para armar as barracas. Ali perto havia a entrada de uma caverna. Mas tarde iriam explorá-la.
Final da tarde. O sol sumiu atrás de nuvens pretas. Uma tempestade desabou sobre todos. Pegaram algumas coisas e correram para a caverna. Quando todos entraram, um deslizamento de terra fechou a entrada. Toneladas de terra desceram.
Aquelas seriam suas piores férias.