CAPÍTULO UM
Nick Karrier estava no baile beneficente há apenas meia hora mas já se sentia pronto para ir embora.
Eventos como este eram dolorosamente previsíveis. Champanhe sem graça, comida sem sabor, muita ostentação... E mulheres demais competindo por sua atenção.
O príncipe Nicolas de Karas também estava pronto para dizer adeus à coisa toda. Até porque, Nick, o bilionário, e Nicolas, o futuro rei de Karas, eram o mesmo homem.
Este era um segredo bem guardado, conhecido apenas por seu pai, o rei, e o Conselho de Ministros. Nos últimos seis meses, Nicolas estava morando em Nova York e aproveitando sua liberdade, mas dali a duas semanas voltaria para casa e assumiria as responsabilidades do trono de Karas.
Sua terra natal era um abastado reino insular no mar Mediterrâneo, graças às suas minas de ouro. Contudo, era menor do que os reinados vizinhos: os antes unidos e agora separados reinos de Aristo e Calista. O pai de Nicolas e o Conselho temiam que, sem um novo rumo e uma nova liderança, Karas fosse engolida por um dos outros dois reinos, e concluíram que havia chegado o momento de Nicolas lhes proporcionar essa liderança.
Nicolas tinha consciência da importância de seu dever. Concordara em assumir sua responsabilidade, com uma condição: meio ano de anonimato, distante de Karas.
- Um rei não pode pensar em suas próprias necessidades - seu pai havia dito, quando ele lhe comunicou que passaria esse tempo sozinho.
- Ainda não sou rei - Nicolas respondeu, com franca determinação. - Sou príncipe, livre para fazer minhas próprias escolhas, e estou apenas colocando o senhor e o Conselho a par de meus planos.
As feições tensas do rei tinham se suavizado.
- Você tem o espírito de que o nosso povo necessita, meu filho. Mas já deverá ser rei quando sua tia, a rainha Tia Karedes, de Aristo, celebrar seu sexagésimo aniversário. Será um evento gigantesco, assistido por todo o mundo, e você deverá estar presente como o novo rei de Karas.
Assim, Nicolas virou Nick, mudou-se para uma cobertura em Manhattan e assumiu a existência despreocupada comum às pessoas belas e com muito dinheiro. Ninguém questionou seu súbito aparecimento. Ele fora protegido da imprensa quando menino e manteve sua privacidade resguardada ao tornar-se um adulto. Além do mais, ali era Nova York: uma cidade onde não faltavam contos de fada modernos.
Dentro de duas semanas, o seu próprio conto chegaria ao fim. E nesta noite, ele tinha se dado conta de que estava pronto para isso. Talvez houvesse verdade no velho ditado: “Tudo o que é demais, enjoa.”
Nicolas ergueu sua taça, sentiu o odor muito doce do champanhe barato, desistiu de beber mais e olhou disfarçadamente para o relógio de pulso. A causa desta noite _Salvem os Pelicanos, Salvem os Pinguins, Salvem Sei-lá-o-quê_ até que era boa. Mas, na maioria das vezes, eventos daquele tipo não eram. Sentiu um desejo incontrolável de agarrar o microfone e perguntar se alguém ali havia cogitado ficar em casa e simplesmente mandar um cheque. Ou, melhor ainda, se ninguém havia cogitado tornar-se um voluntário. Ele tinha ajudado a construir casas para os menos favorecidos em uma província da periferia de Karas há dois anos, e apreciou cada gota de suor e cada músculo fortalecido durante a experiência.
Pegar aquele microfone talvez não fosse uma ideia má ...
Inferno.
Um garçom passou a seu lado e Nick trocou a taça de champanhe sem graça pelo que descobriu ser um martíni de maçã. Estremeceu, livrou-se do drinque e resolveu que era hora de ir. Ir mesmo, antecipar em alguns dias seu retorno à Karas. Já era hora.
Sim, ele sentiria falta de algumas coisas. Anonimato. Solidão. O direito de estar com uma mulher apenas porque ela o desejava – se bem que nunca havia garantia disso quando se possuía tanto dinheiro. As mulheres de Nova York se atiravam em cima dele e seria ainda pior se soubessem que ele possuía um título da realeza. Ele nunca havia imaginado que um homem pudesse se cansar de viver cercado por mulheres lindas, ansiosas por agradar, mas ele estava cansado.
Dali em diante, pelo menos, tentar descobrir as verdadeiras intenções de uma mulher não seria problema.
O Conselho lhe encontraria uma esposa.
Ela possuiria sangue real ou, no mínimo, uma boa criação. Ela seria de sua parte do mundo: de Karas ou Aristo, mas não de Calista. Karas mantinha uma relação amistosa com os sheiks de Calista, porém suas culturas eram muito diferentes. A mulher seria atraente, ele faria questão disso. No mais, os casamentos reais se tratavam de dever. Não tinham nada a ver com amor, paixão, calor, sexo e desafio...
Definitivamente era hora de sair dali, sair de Nova York, antes que se metesse em encrencas, embora parecesse errado pôr um fim em sua liberdade de forma tão desanimada. Com certeza havia algo que ele pudesse fazer como bota-fora.
- Já comprou os nossos bilhetes da rifa?
A voz era feminina e impessoal. Lembrava-o das governantas frias de sua infância, e ele buscou a carteira sem se importar em erguer o olhar.
- Quanto custa? - indagou, em um tom aborrecido e brusco.
- Mil dólares cada.
- Está bem. Fico com cinco.
- Cinco? - A voz destilava desdém. - Com a reputação que tem de esbanjar dinheiro?
A observação fez com que ele levantasse a cabeça e (surpresa!) a mulher não se parecia com nenhuma das governantas que ele conhecera. Não com aquele corpo esguio e atraente, aquela cascata de cachos dourados, aquele rosto espetacular e aqueles olhos enormes, cor de café. Ela estava olhando para ele, com uma expressão próxima ao desprezo.
Era linda. E, a menos que fosse uma excelente atriz, não parecia nem um pouco impressionada com ele.
Levá-la para a cama seria o modo perfeito de dar adeus aos seus seis meses de liberdade.
Agora é Lei: Toda mulher tem direito a acompanhante maior de idade em consultas, exames e cirurgias
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