A DESCONHECIDA - Greg Pinheiro

Quem é aquela que
Desce a ladeira
Sambando, bamboleando
Como se estivesse bêbada,
Pisando nas pedras polidas
Pelos pés descalços da gente
Que vive no morro?

Quem é aquela que fita o vazio
Perdida no vácuo das curvas da padieira,
Capaz de pular por cima das valas,
Buracos e exarcos que retém o sangue
De quem a vida deixou?

Filha natural das lidas,
Tão simples, mas sábia;
Ela apenas desconhece aqueles
Que sempre aparecem pedindo seu voto
Mas logo esquecem as promessas...

A justiça é cara, de muito valor;
E não sobe às escadas do morro,
Onde vivem os que bebem pinga
Para esquecer os fracassos,
A fome e a dor alojada na alma
Desses desafortunados.

De tanto subir e descer
No vai e vem,
Nos episódios de  relacionamentos,
Nascem os filhos naturais
Das mães solteiras
Porque os pais sumiram
Além da curva de cada travessa.

Por trás da maquiagem,
Ela se reveste de fantasias
Desce a ladeira, vai ao trabalho,
Para entregar o seu corpo
Seu ofício sacrossanto.

Lá em cima ela deixa o beco,
Um filho, uma lágrima, uma dor,
Segue apressada, atravessa a rua,
E logo é jogada pelo ônibus,
Que vai embora, ela fica sem vida;
E a favela sem a desconhecida.

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