Quincas Borba - Machado de Assis - Fuvest 2021 - Capítulo 29
RUBIÃO passou o resto da manhã alegremente. Era domingo; dois amigos vieram
almoçar com ele, um rapaz de vinte e quatro anos, que roía as primeiras aparas dos bens
da mãe, e um homem de quarenta e quatro ou quarenta e seis, que já não tinha que roer.
Carlos Maria chamava-se o primeiro, Freitas o segundo. Rubião gostava de
ambos, mas diferentemente; não era só a idade que o ligava mais ao Freitas, era também
a índole deste homem. Freitas elogiava tudo, saudava cada prato e cada vinho com uma
frase particular, delicada, e saía de lá com as algibeiras cheias de charutos, provando
assim que os preferia a quaisquer outros. Tinha-lhe sido apresentado em certo armazém
da Rua Municipal, onde jantaram uma vez juntos. Contaram-lhe ali a história do
homem, a sua boa e má fortuna, mas não entraram em particularidades. Rubião torceu o
nariz; era naturalmente algum náufrago, cuja convivência não lhe traria nenhum prazer
pessoal nem consideração pública. Mas o Freitas atenuou logo essa primeira impressão;
era vivo, interessante, anedótico, alegre como um homem que tivesse cinqüenta contos
de renda. Como Rubião falasse das bonitas rosas que possuía, ele pediu-lhe licença para
ir vê-las: era doido por flores. Poucos dias depois apareceu lá, disse que ia ver as belas
rosas, eram poucos minutos, não se incomodasse o Rubião, se tinha que fazer. Rubião,
ao contrário, gostou de ver que o homem não se esquecera da conversação, desceu ao
jardim onde ele ficara esperando, e foi mostrar-lhe as rosas. Freitas achou-as admiráveis; examinava-as com tal afinco que era preciso arrancá-lo de uma roseira para
levá-lo a outra. Sabia o nome de todas, e ia apontando muitas espécies que o Rubião não
tinha nem conhecia, — apontando e descrevendo, assim e assim, deste tamanho
(indicava o tamanho abrindo e arredondando o dedo polegar e o índex), e depois
nomeava as pessoas que possuíam bons exemplares. Mas as do Rubião eram das
melhores espécies; esta, por exemplo, era rara, e aquela também, etc. O jardineiro
ouvia-o com espanto. Tudo examinado, disse Rubião
: — Venha tomar alguma coisa. Que há de ser?
Freitas contentou-se com qualquer coisa. Chegando acima, achou a casa muito
bem posta. Examinou os bronzes, os quadros, os móveis, olhou para o mar.
— Sim, senhor! disse ele, o senhor vive como um fidalgo.
Rubião sorriu; fidalgo, ainda por comparação, é palavra que se ouve bem. Veio o
criado espanhol com a bandeja de prata, vários licores, e cálices, e foi um bom momento
para o Rubião. Ofereceu, ele mesmo, este ou aquele licor; recomendou afinal um que
lhe deram como superior a tudo que, em tal ramo, poderia existir no mercado. Freitas
sorriu incrédulo.
— Talvez seja encarecimento, disse ele.
Tomou o primeiro trago, saboreou-o devagar, depois segundo, depois terceiro.
No fim, pasmado, confessou que era um primor. Onde é que comprara aquilo? Rubião
respondeu que um amigo, dono de um grande armazém de vinhos, o presenteara com
urna garrafa; ele, porém, gostou tanto que já encomendara três dúzias. Não tardou que
se estreitassem as relações. E o Freitas vai ali almoçar ou jantar muitas vezes, — mais
vezes ainda do que quer ou pode, — porque é difícil resistir a um homem tão
obsequioso, tão amigo de ver caras amigas.
Agora é Lei: Toda mulher tem direito a acompanhante maior de idade em consultas, exames e cirurgias
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