Vou assumir minha identidade
abrindo as cortinas da emoção,
sem precisar denunciar os meus anseios.
No entanto, queria quem sabe,
calar a voz do esquecimento.
Mas a carga da razão
pesou demais sobre meus ombros,
que de tão cansados da espera inútil
não pode mais emudecer.
Não consigo amar com pedaços
mesmo que em minhas frustrações
você tenha existido.
Existiu, não foi criação minha
sem fragmentos, sem metades
na concepção palpável
da minha existência.
Mas o deixei partir, sem tentativas
sem ao menos dizer-lhe, "eu te amo".
Foi um embate de incompreensão.
Agora, minha linguagem desbota-se
e a tinta emperra.
Minha angústia é não poder denotar
lucidez nas minhas frases.
Minha alma chora ao denunciar-me:
descaracterizada, culpada,
lânguida, abstrata, impune.
Marlene Gomes