Aconteceu que José começou a se incomodar com o animal. Começo a invejá-lo.
— Como esse burro pode ser tão sereno e tão confiante? Ele é simplesmente um burro! Nada mais do que isso! - refletia Emanuel.
Ora , leitores , essa conduta não é tão estranha assim! Afinal , a burrice dos outros é sempre melhor do que a nossa. Esse é um raciocínio bastante peculiar e excêntrico de nós seres humanos. Sempre invejamos a burrice alheia , de modo que ficam as seguintes perguntas: Quem é mais burro ? O burro ou aquele que tem inveja do burro?
José Emanuel sabia que suas convicções ainda eram fracas. Admirava-se talvez que aquele burro tivesse tanta confiança , mesmo na sua burrice. Ou será que a burrice dele era ter convicções demais?
Bem , para não ter que prolongar a trágica história e a enfadonha reflexão , a conclusão foi que José enclausurou o convicto animal num quartinho escuro para amedrontá-lo.
Após uma semana , o burro morreu. Emanuel então disse: Agora sim eu mostrei para esse animal que essa grande confiança é mera tolice.
José estava confiante quando disse isso. Ao continuar a andar , ele percebeu que ele era , assim como o ser que morrera , mais um burro convicto.
O Burro Convicto - Bruno Viana in Antologia de Poesia , Contos e Crônica , página 141- Especial Bienal São Paulo. Editora All Print , 2010.