Eu vivo em um dia que passou
Quero ainda o que neste senti
Não sonho: lembro. E onde vou
Recuo, sabendo que devo seguir.
Das águas do rio me banham as passadas
Sigo nelas na balsa que afundou
E sinto a minha vista embalsamada
E minha pele o tempo já marcou.
Eu quero tudo que foi
Que nunca foi, que não é mais.
Queima-me o sol que já se pôs,
Quero as flores que não colherei jamais.
De tudo, sou o pouco que fica
Sou o barco velho que na praia apodreceu.
Vejo o fim que tudo me indica
Quero o canto do riso que já morreu.
E assim vou vivendo a mocidade
Nisto tudo tão velho e tão conciso
Até que a própria transitoriedade
Possa arrancar-me do meu próprio abismo.
Avesso - Camila Dantas
http://www.oliriodovale.blogspot.com/